Num dia em que o mundo vai relembrar o ataque ao WTC, vale recordar um dos momentos mais trágicos da América Latina e do intervencionismo dos EUA
Pouca gente – no Brasil e no mundo – sabe que 11 de setembro é a triste data que marca o golpe de Estado no Chile de Salvador Allende. Naquela data de 1973, o Palácio de la Moneda, sede do governo, na região central da capital Santiago, começou a ser bombardeado por aviões da Força Aérea Chilena por volta de meio-dia, mas já estava sob fogo dos militares golpistas pelo menos duas horas antes. As imagens são chocantes. E o país de Pablo Neruda entrou num longo período sem liberdades democráticas que durou mais de 27 anos.
O regime fascista comandado por Augusto Pinochet promoveu um banho de sangue com mais de 3 mil mortos e dezenas de milhares de presos e torturados. A esses números macabros se somam mais de 200 mil chilenos – 2% da população à época do início do golpe – que tomaram o caminho do exílio no exterior para não terem as masmorras ou o cemitério como destino.
Allende foi eleito em setembro de 1970, na sua quarta disputa presidencial, e desde o primeiro dia do seu governo teve que enfrentar inimigos internos e externos. O governo dos Estados Unidos assumiu publicamente, através de Henry Kissinger, então assessor especial do presidente Richard Nixon, que não permitiria a ascensão de um governo socialista no Chile. “Não vejo porque precisamos ficar parados e assistir um país tornar-se comunista por causa da irresponsabilidade do seu povo. As questões são muito importantes para deixarmos os eleitores chilenos decidirem por si mesmos”, anunciou Kissinger numa entrevista dada em junho de 1970, antes mesmo da eleição vencida por Allende numa apertada disputa contra a direita e a democracia-cristã.
A estratégia de fazer “gritar” a economia do país rico em minérios, decidida também em 1970, foi revelada anos depois. É exatamente a mesma estratégia usada hoje contra a Venezuela.
Um ótimo vídeo que explica o que aconteceu no Chile está disponível no Youtube:
Mas a melhor peça audiovisual sobre o Golpe de 1973 faz parte de uma obra coletiva realizada por 11 renomados cineastas com suas visões a respeito o 11 de setembro de 2001. Cada um deles – incluindo o mexicano multipremiado Alejandro González Iñárritu, o norte-americano Sean Penn, o inglês Ken Loach, o alemão Wim Wenders e muitos outros – produziu uma obra de 11 minutos, nove segundos e um quadro, daí o título do filme: 11’09”01. O gênio criativo de Ken Loach o levou a produzir um sensível e oportuno retrato do outro 11 de setembro, totalmente ignorado pela sociedade estadunidense abalada pelo ataque às torres gêmeas do World Trade Center. O vídeo (sem legendas) pode ser assistido aqui:
Rogério Tomaz