Sessão inaugural do filme teve sala lotada no Cine Brasília e gritos pela liberdade de Lula
Diz um antigo provérbio chinês que todos os fatos possuem três versões: a sua, a minha e a verdadeira. Pois a versão do cineasta Douglas Duarte para o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, exibida neste domingo (16), no 51º Festival de Brasília, tomou partido do lado derrotado, mas sem confundir cinema de qualidade com militância política.
“Excelentíssimos” faz opção por jogar luz sobre os protagonistas do golpe, especialmente no âmbito da Câmara dos Deputados. O termo rechaçado pelos vencedores daquela batalha, entretanto, não foi abraçado pelo narrador.
A habilidade narrativa, não abdicando de posição própria, mas tampouco escorregando para o maniqueísmo fácil, é o ponto forte da obra. Some a isso algumas entrevistas memoráveis que o jornalismo da grande mídia jamais conseguiu – ou jamais quis – entregar ao público durante todo o período entre a posse de Eduardo Cunha como presidente da Câmara e o afastamento de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto. A “confissão” do deputado – atualmente ministro de Michel Temer – Carlos Marun (PMDB-MS) é particularmente impressionante e deve logo viralizar na Internet.
O material final levado às telas, extraído de mais de 300 horas de gravação, é ainda mais valioso quando lembramos que o Congresso estava literalmente sitiado em todo o período das votações decisivas do processo. Circular tanto pela Câmara quanto pelo Senado tornou-se, à época, algo difícil até mesmo para os parlamentares. Imagine para uma equipe rodando um documentário em local e momento onde a transparência era exceção. Aliás, vale registrar que várias equipes conseguiram esta proeza, como as das diretoras Maria Augusta Ramos, de “O processo”, e Petra Costa, com filme ainda por estrear.
Contexto
A contextualização desse importante capítulo da história política brasileira também foi muito bem realizada, talvez com menos ênfase sobre o papel do Judiciário do que mereceria, mas a peça é a visão do diretor, afinal de contas. Eduardo Cunha, Sérgio Moro, Aécio Neves e a cúpula do PSDB foram registrados com a relevância que tiveram.
Do outro lado, Lula foi mostrado, de forma sutil, como a realidade confirma a cada dia: vítima de perseguição judicial. A cada vez que o preso político aparecia na tela, a palavra de ordem “Lula livre!” surgia em algum lugar da sala lotada no histórico Cine Brasília, que comporta 600 pessoas atualmente.
Em que pese o narrador bastante didático, o filme não incorre no simplismo para explicar a complexa trama política no Brasil atual. Ajuda o fato de as principais falas da obra serem dos entrevistados ou dos discursos selecionados de arquivo. O narrador concatena os diversos episódios relacionados ao objeto central, mas não assume tom professoral e dá espaço para o público fazer as suas próprias amarrações interpretativas.
A boa notícia: segundo o diretor, o (enorme) material extra, ainda sem prazo ou formato definido, será divulgado no futuro. Ao circuito comercial o filme chega no dia 22 de novembro.
Assista assim que puder [página do filme]. Enquanto isso, fique abaixo com o trailer.
Rogério Tomaz*
*Jornalista, NÃO é (e nem pretende ser) crítico de cinema, acompanhou a votação decisiva do golpe na Câmara diretamente do plenário Ulysses Guimarães.