No último sábado (4), conheci María e Melisa, 27 e 30, argentinas. Ao final de uma excursão em Mendoza, dividiram com todos no ônibus uma notícia que só é possível num país que não permite que a religião se ponha acima do amor entre as pessoas: vão casar!
Fiquei emocionado. Todos se contagiaram com a alegria da novidade. Eu, além disso, por testemunhar o enorme significado de uma pequena liberdade que ainda é algo tão distante para a maioria das mulheres do mundo.
Lembrei no mesmo instante que o Brasil ainda está muito longe de garantir a liberdade – não me refiro apenas ao casamento civil – e igualdade plenas para a população LGBT e, em particular, para as mulheres, duplamente oprimidas.
Tenho uma filha praticamente da idade de María e Melisa. Daniela, 24. E não sei se ela vai chegar a viver num Brasil onde a militância religiosa obscurantista deixe de ser um entrave para que as mulheres tenham direito de casar com quem quiserem, tenham direito a abortar no sistema público de saúde se assim decidirem e tenham reconhecido o trabalho não remunerado que é o ato de cuidar dos filhos, entre tantos outros direitos.
Esses três que mencionei já estão plenamente efetivados na Argentina, que não deixa, entretanto, de ter as suas contradições e limites: enquanto o Estado – por pressão das mulheres organizadas – lhes garante direitos, na vida cotidiana elas seguem sofrendo violência – inclusive o assassinato – todos os dias e discriminação em todas as áreas, especialmente no mundo do trabalho, independentemente da área.
Ou seja, apesar de ter avançado bastante na última década, a Argentina no mundo real se encontra numa situação muito similar à dos demais países latino-americanos (e europeus, africanos e asiáticos) onde direitos básicos ainda são negados por força do machismo que impregna e dirige as instituições.
Muito boa sorte e muitas felicidades, María e Melisa! Que o amor e a liberdade de vocês inspirem as pessoas ao redor e torne o mundo um pouco melhor!