“El Pepe, una vida suprema” foi exibido hoje (3) e “La noche de doce años” foi ovacionada pelo público durante 25 minutos
Jogadores de futebol à parte, José “Pepe” Mujica e Eduardo Galeano* foram grandes amigos e são os uruguaios mais conhecidos no mundo. Nesta segunda-feira (3) estreia o documentário sobre o primeiro no prestigiado Festival de Veneza. Exatamente na data de nascimento do segundo, que completaria 78 anos hoje.
“El Pepe, una vida suprema” é o título da obra do multipremiado diretor sérvio Emir Kusturica, conhecido do público latino-americano por “Maradona by Kusturica” (2008). O documentário sobre o astro argentino rompeu lugares comuns e conseguiu mostrar o ser humano que ganhou fama mundial como futebolista.
A primeira exibição do filme de Kusturica sobre o ex-presidente uruguaio ocorreu nesta segunda às 14h15, hora local, na principal sala do Festival. “Impressionado por ele e seu trabalho, triste por não ter tido tal presidente, e celebrando a utopia e a virtude, eu fiz este filme”, declarou o cineasta, que considera “o amor de Mujica pela vida e natureza” elementos que estão no cerne da ideologia do seu retratado.
O ex-guerrilheiro é célebre por suas ideias e frases relacionadas à esperança na humanidade e Kusturica captou bem isso. “Atingir uma utopia requer uma mudança fundamental de consciência. Através da sua trajetória de vida e exemplo pessoal, José Mujica gera esperança em se alcançar ideais”, argumenta o sérvio, que levou cinco anos para concluir o projeto.
Ficção – A outra película sobre Mujica na programação do Festival de Veneza, a ficção“La noche de doce años”, trata dos anos em que alguns dos principais dirigentes Tupamaros – o grupo guerrilheiro que desafiou a ditadura uruguaia que vigorou entre 1973 e 1985 – passaram confinados em regime de completo isolamento.
Por exatos 11 anos, seis meses e sete dias, Pepe Mujica e outros companheiros ficaram em solitárias e sem qualquer convívio com outros presos. O filme é dirigido pelo uruguaio Álvaro Brechner. No elenco, o seu compatriota Alfonso Tort faz o papel de Eleuterio Fernández Huidobro, que passou de “Tupa” a Ministro da Defesa do país entre 2011 e 2016. O argentino Chino Darín (sim, filho do Ricardo e também excelente ator) protagonizou o jornalista Maurício Rosencof, outro que passou mais de uma década na solitária. Mujica, que foi preso após levar seis tiros e teve que tomar sua urina para não morrer no cárcere, foi interpretado pelo espanhol Antonio de la Torre. Rosencof e Huidobro são autores do livro “Memorias del calabozo”, que serviu de base para o filme.
“Eles suportaram um processo físico e mental projetado para levá-los à loucura com o objetivo final de destruir qualquer resistência dentro do seu eu mais profundo. Eles foram forçados a se reinventar dos restos de sua condição humana para resistir a uma das mais sinistras provações imagináveis”, contou Brechner, que teve ótima recepção com a comédia “Mr. Kaplan” (2014).
A co-produção (ARG/ESP/FRA/URU) foi exibida no sábado (1º) e recebeu nada menos que 25 minutos de aplausos do público, informou o jornal El Observador [com vídeos]. A previsão é que a obra chegue aos cinemas comerciais da Argentina e do Uruguai no final deste mês.
Rogério Tomaz
*Veneza era o lugar onde Galeano e Helena – e amigos, sempre que passavam por lá – compravam as minúsculas agendas nas quais ele fazia as anotações que originavam seus textos. As “Porkys” compunham uma série e o nome homenageava o animal que também era a marca registrada de Galeano em muitos dos seus autógrafos.
Trailer de “La noche de doce años”: