Esse texto não é sobre esporte. É sobre as peças que a vida prega…
Por Rogério Tomaz Jr.*
Domingo, 24 de março de 2019. Em Colúmbia, Carolina do Sul, a potência Duke enfrentou a modesta Central Florida (UCF) por uma vaga nas oitavas-de-final do torneio de basquete masculino da NCAA.
De um lado, Mike Krzyzewski, o mais celebrado técnico do basquete universitário nos últimos trinta anos.
Do outro, Johnny Dawkins, segundo maior cestinha da história de Duke, discípulo e amigo próximo do Coach K. Os dois estiveram juntos no primeiro grande time da universidade, em meados dos anos 80.
Em quadra, Zion Williamson, 18 anos, estrela dos Blue Devils, já comparado a Lebron James e número 1 do próximo Draft da NBA, em junho.
Para tentar parar o fenômeno, Aubrey Dawkins, que deixou a fortíssima Michigan para jogar sob a tutela do pai, mesmo num time mais fraco e com pouca tradição na NCAA.
Aubrey foi o melhor jogador da partida. 32 pontos, 67% de acerto nos arremessos.
Zion foi o mais decisivo. Conseguiu uma cesta crucial quando faltavam 14 segundos para o fim do jogo que havia sido liderado na maior parte do tempo pelos azarões da UCF. Na jogada, Zion recebeu a quinta falta de Tacko Fall, pivô de 2,29m, eliminado da partida com esta infração.
No lance-livre de bônus, Zion errou, mas o rebote foi apanhado pelo outro grande talento de Duke, R.J. Barrett, que fez a cesta da virada (77-76).
Restavam 8 segundos para UCF tentar a vitória. O armador B.J. Taylor foi agressivo rumo à tabela, mas errou por pouco a bandeja. Aubrey acompanhava atento o lance e saltou tão alto que sua cabeça ficou rente ao aro.
Parecia um lance fácil. Um tapinha simples para garantir uma vitória inesperada. Aubrey tinha domínio de todo o espaço. Nenhum adversário pulou junto para bloqueá-lo. A mão direita enorme abarcava a bola inteira. Ele fez o movimento correto, bandeja com auxílio da tabela, a jogada mais elementar do basquete. A esfera laranja deslizou lentamente sobre metade da extensão do aro, mas não entrou [vídeo abaixo].
Fim de jogo. Duke, favorita ao título nacional, sobreviveu por muito pouco a um vexame. Central Florida deixou a glória escapar, literalmente, pela ponta dos dedos.
Os atletas de ambos os times estavam incrédulos, embora com sentimentos opostos. Os dois treinadores se abraçam, trocam algumas palavras. Krzyzewski tenso, pisca várias vezes, como quem acaba de passar por um susto enorme. Ele era o vencedor, mas seus olhos eram o retrato da tristeza, que ele confessou depois aos repórteres: estava próximo das lágrimas quando cumprimentou o adversário derrotado. “Aubrey foi o melhor jogador na quadra hoje. Ele foi magnífico”, disse o Coach K, confirmando a sua renomada humildade.
Vestiário
O drama maior ocorreu no vestiário da UCF. Diante do pranto incontido dos seus jovens comandados, o treinador, fortemente comovido, fazia o discurso de agradecimento pela brilhante temporada que a equipe fizera. “Tenho orgulho de vocês, temos orgulho do esforço que vocês fizeram durante todo o ano”, repetia Dawkins, segurando o próprio choro.
As imagens dizem mais do que qualquer palavra possa descrever.
A frase já é clichê, mas esse é o basquete, o esporte criado por Deus e regido pelo Diabo.
Os dois minutos finais do jogo
O drama no vestiário
*Rogério Tomaz Jr. é jornalista e ex-atleta de basquete