Argentina: Trabalhadores da economia informal criam sindicato para fortalecer luta por direitos

A poucos dias do Natal e menos de duas semanas após a posse do novo presidente, Alberto Fernández, a Argentina assistiu ao nascimento de mais um importante ator político do movimento sindical. No sábado (21), no coração do tradicional bairro operário de Caballito, nasceu a União dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Economia Popular (UTEP).

Na América do Sul, a Argentina (28%) só fica atrás do Uruguai (30%) em percentual de trabalhadores sindicalizados. Os dois vizinhos do rio da Prata estão entre os 10 países com a maior taxa de sindicalização do mundo. A organização de trabalhadores de setores informais e precarizados deve fortalecer ainda mais a luta por direitos no país cuja economia foi destruída nos quatro anos do governo de Maurício Macri.

Em termos de categorias laborais, a UTEP reúne catadores/recicladores, camponeses, artesãos, vendedores ambulantes, feirantes, costureiras, trabalhadores de aplicativos, flanelinhas, operários da construção civil, trabalhadores de empresas recuperadas, do transporte informal, de cooperativas populares, além de lideranças de bairros populares, entre outros segmentos que fizeram um encontro de fortíssimo simbolismo.

“É impossível que a emoção não te vença hoje. Se é verdade que me escutam há muito tempo dizer que esta identidade trabalhadora plantamos na história operária que tem esta pátria, desta vez vamos saber qual é a história real, como nascemos e como nos reconhecemos. A economia popular tem traços muito marcantes, são nossos rostos curtidos, são nossas mãos calejadas, são nossos olhos vermelhos de cansaço… e com tudo isso tivemos a capacidade de nos aferrar à cultura do trabalho”, desabafou Jackie Flores, porta-voz do Movimento dos Trabalhadores Excluídos (MTE/CTEP).

Politicamente, a base da UTEP é formada por trabalhadores/as e militantes de diversos agrupamentos políticos de profunda raiz popular, notadamente o MTE, a Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular (CTEP)*, a Frente Popular Darío Santillán, o Movimento Evita, a organização comunitária Somos Bairros de Pé e a Corrente Classista e Combativa (CCC), que teve grande influência no sindicalismo nos anos 1970 e mais tarde no movimento piquetero dos anos 1990.

Unidade

A unificação de vários setores – confira a lista completa aqui – independentes vem sendo costurada desde 2016 e agora foi finalmente formalizada. A entrada na histórica Central Geral dos Trabalhadores (CGT) – fundada em 1930 e revigorada com a reincorporação, em outubro passado, da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA) – é o próximo passo da UTEP.

“Somos parte da classe trabalhadora e a classe trabalhadora tem uma nova configuração e nessa configuração estão os trabalhadores e trabalhadoras da economia popular, e esses somos nós. É fundamental nos unirmos em uma única central”, explica Eduardo “Gringo” Castro, secretário-geral da nova entidade.

Mensagem presidencial

O ato de fundação da UTEP contou com a presença de dirigentes de todos os grandes movimentos sociais da Argentina. O prestígio foi confirmado pelo envio de uma mensagem em vídeo de Alberto Fernández.

“Há um Estado que os reconhece como atores da realidade argentina e há uma sociedade que necessita reconhece-los como tal”, disse o presidente, que ressaltou também a unidade que permitirá que sejam levadas adiante “as mudanças que já estamos protagonizando”.

Mais detalhes da criação da UTEP (em espanhol): http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/12/21/argentina-nace-la-utep-nuevo-sindicato-de-la-economia-popular-fotos-y-videos/

*O líder mais conhecido da CTEP é Juan Grabois, um dos principais interlocutores do Papa Francisco junto à sociedade civil argentina. Grabois visitou Lula na prisão em junho de 2018 e lhe entregou um crucifixo enviado pelo Sumo Pontífice.

Mais detalhes sobre a CTEP (artigo de Juan Grabois):
http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/02/08/argentina-que-es-la-ctep/

Rogério Tomaz Jr. – Jornalista, morou em Montevidéu e a partir de 2020 residirá na Argentina. Atualmente está escrevendo o livro “Conversando com Eduardo, viajando com Galeano”. É o responsável pelo site www.rogeriotomaz.com

Fotos: Antonella Giuso e Carlos Aznárez.

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