Riquelme derrota Macri na Argentina e povo derrota “programa de Kast” no referendo do Chile

Dois processos eleitorais importantes na América Latina neste domingo (17) terminaram com vitória das forças progressistas sobre representantes do neoliberalismo e do fascismo. Na Argentina, o ex-jogador Juan Román Riquelme derrotou o grupo de Maurício Macri nas eleições do Boca Juniors, clube de maior torcida da Argentina. Por volta das 22h50, o adversário de Riquelme reconheceu a derrota, quando a apuração não havia chegado sequer a 50%, mas já mostrava uma distância enorme (63% a 37%) e com tendência de aumento da diferença.

Já no Chile, que realizou o segundo referendo para decidir sobre a nova Constituição, o texto redigido num processo controlado pela extrema-direita foi derrotado nas urnas: 55,7% do eleitorado escolheu a opção “Contrário” ao texto apresentado, enquanto 44,3% apoiou a proposta redigida por uma comissão de notáveis dominada por partidários de José Antonio Kast, o “Bolsonaro chileno” que foi derrotado na eleição presidencial de 2021 por Gabriel Boric.

Riquelme x Macri

Para além de definir a direção do clube, a eleição no Boca Juniors vinha sendo considerada uma nova batalha entre dois projetos antagônicos de país. De um lado, o neoliberalismo de Maurício Macri e seus sócios, dispostos a tudo, inclusive a usar a paixão pelo futebol, para acumular riqueza e poder. Do outro, um projeto solidário, coletivo e baseado em valores tradicionais da sociedade argentina, que rejeita a privatização do esporte mais popular do país, proposta que Macri defende com unhas e dentes. Riquelme, atual vice-presidente do clube, encabeçou a chapa na disputa contra Andres Ibarra, correligionário de partido de Macri (que foi de candidato a vice).

O ex-presidente da República usou todo o seu poder econômico e político, inclusive a influência sobre o Judiciário argentino, para impedir a continuidade da gestão do grupo de Riquelme. A eleição foi, inclusive, adiada em duas semanas pela Justiça, a pedido da chapa de Macri.

A manobra não funcionou e Riquelme consagrou-se neste domingo com uma vitória maiúscula, com mais de 60% dos votos. O Boca seguirá como um “clube dos sócios” e não um negócio a mais de Maurício Macri.

Alívio

Na terra de Neruda, o sentimento entre a esquerda é de alívio com o resultado, já que o texto trazia muitos retrocessos em termos de direitos sociais, de direitos das mulheres, além de impor uma reforma tributária embutida, de cunho profundamente neoliberal. Não houve muitas comemorações, mas o sentimento é de vitória diante de uma ameaça de derrocada democrática que poderia vir se a proposta julgada no referendo fosse vitoriosa.

Karen Araya, dirigente sindical e militante do Partido Comunista que participou do conselho eleito para conduzir o processo encerrado com esse referendo, chama o texto de “programa de Kast”, em referência ao caráter ultraconservador do documento.

“Efetivamente, não há nada para celebrar, mas temos, sim, que sentir um alívio”, disse Antonia Rivas, representante da Frente Ampla (progressista) no conselho constitucional.

Acabou o sonho da nova Constituição

Entretanto, a rejeição ao novo texto coloca o país novamente num impasse. Por um lado, segue pendente de aplicação a decisão do plebiscito de 2021, quando a população chilena decidiu que era preciso elaborar uma nova Constituição, em substituição àquela vigente desde 1980, escrita nos gabinetes da ditadura Pinochet.

Por outro lado, o presidente Gabriel Boric e distintos atores políticos já confirmaram que não há mais condições de iniciar a terceira tentativa de elaboração da Carta Magna. Os motivos são o cansaço acumulado de dois projetos fracassados e o fato de 2024 ser um ano com três eleições regionais (governadores, prefeitos e parlamentares regionais e municipais), o que inviabiliza qualquer espaço para um novo processo constituinte.

“A soberania popular expressou claramente a sua vontade e a maioria votou contra. Com isto quero deixar claro que durante o nosso mandato o processo constitucional está encerrado. As urgências são outras”, disse Boric, em pronunciamento após os resultados oficiais.

Paulina Vodanovic, presidenta do Partido Socialista, maior força política do campo progressista e base do governo Boric, afirmou que a legenda não apoiará um novo processo. “Temos diante de nós a necessidade urgente de alinhar a agenda do verdadeiro Chile com as prioridades do sistema político, como segurança, crescimento econômico, emprego, previdência, saúde e educação”, explicou a dirigente socialista.

Pessoalmente, fico triste por tudo o que foi feito entre outubro de 2019 e janeiro de 2020, no chamado “estallido social”, especialmente pelas mais de trinta vítimas fatais e mais de

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