Eleições Brasil – Informe 2 (10/9/2018)

Haddad já está em segundo lugar, possíveis consequências do atentado a Bolsonaro e o que aconteceria se não houvesse o golpe de 2016

Eleições Brasil – Informe 2 (10/9/2018)
RogerioTomaz.Com

1. Haddad já está em segundo lugar

Num cenário sem Lula, pesquisa da consultoria financeira XP Investimentos, que acompanha de perto todos os lances da campanha eleitoral, divulgada na sexta-feira (7) aponta a liderança de Jair Bolsonaro (PSL) com 20%, seguido de Fernando Haddad (PT) com 14% de intenções de votos. Ciro Gomes (PDT) figura na pesquisa com 10%, enquanto Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) aparecem com 8%,

Na pergunta que trouxe esse resultado, foi informado ao eleitor que Haddad é apoiado pelo ex-presidente Lula. No cenário sem a informação explícita desse apoio, o ex-prefeito de São Paulo aparece com 8%.

O levantamento foi feito pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação (Ipespe), entre os dias 3 a 5 de setembro, com 2.000 entrevistas em todas as regiões do país.

2. Possíveis consequências do atentado a Bolsonaro

Num primeiro momento, o ataque contra Jair Bolsonaro desatou uma onda de repúdio à violência na política e de solidariedade ao candidato da extrema-direita. Nas sondagens internas dos partidos nos dias seguintes ao episódio, Bolsonaro cresceu um pouco e nas pesquisas desta semana a tendência é que se confirme esse crescimento.

Passada a comoção pública, o próprio candidato publicou uma foto, no leito do hospital, em que simulava ter uma arma nas mãos pronta para disparar. Esse gesto lembrou à sociedade brasileira que Bolsonaro é o maior propagador do ódio na política brasileira. O saldo eleitoral do episódio pode ser uma diminuição da rejeição a Bolsonaro, mas não há nada que indique um crescimento consistente e vigoroso, ao contrário do que seus filhos declararam, de forma oportunista e nada realista.

No momento, o cenário indica que Bolsonaro deve ir ao segundo turno contra o candidato do PT, mas terá muita dificuldade para alcançar a vitória. A respeito disso, Geraldo Alckmin disse que enfrentar Bolsonaro no segundo turno é “o sonho de todo mundo”.

Bolsonaro ao ser esfaqueado (Raysa Leite)

3. O que aconteceria se não houvesse o golpe de 2016

Numa hipotética análise sobre o que aconteceria se Dilma Rousseff não fosse derrubada por um golpe parlamentar em 2016, o cenário mais provável seria uma esquerda enfraquecida e fragmentada e o favoritismo da direita ideológica orgânica – representada essencialmente pelo PSDB e DEM – para vencer a eleição presidencial.

No início de 2015, com a adoção de uma agenda parcialmente neoliberal para frear a derrocada dos pilares da economia, Dilma Rousseff perdeu o apoio de importantes segmentos da sociedade que votaram nela em 2014 para impedir a vitória de Aécio Neves (PSDB).

O amplo descontentamento, inclusive com acusações de “estelionato eleitoral” lançadas pela direita e abraçadas por setores progressistas, permitiu a ampliação das críticas no seio da base governista no Congresso. Naquele contexto, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), encontrou muita facilidade para aplicar sua política de inviabilização da administração de Dilma Rousseff. Diversas medidas extremamente graves para as contas do governo foram aprovadas por Cunha e sua turma, o que explicitava cada vez a falta de comando da presidenta sobre a sua coalização no Parlamento.

Aí apareceram as denúncias de corrupção contra Eduardo Cunha e a Rede Globo, não podendo ignorar, mas já vislumbrando a possível derrubada do governo Dilma, optou por jogar ao mar o presidente da Câmara e protagonista do golpe. Cunha, desesperado, tentou uma última cartada: chantagear o PT para salvá-lo no Conselho de Ética da Câmara e impedir que o seu processo avançasse para a cassação do seu mandato.

Como o PT não cedeu à chantagem, Cunha acatou imediatamente o pedido de abertura de impeachment contra Dilma Rousseff. Isso ocorreu no dia 2 de dezembro de 2015, Dia Nacional do Samba.

O que aconteceu depois disso é conhecido por todos. Mas o que teria acontecido se Cunha não tivesse chantageado o PT ou se a Globo não tivesse endossado a ação do PSol – assinada por vários deputados do PT – contra Cunha no Conselho de Ética? Listo alguns fatos que provavelmente teriam ocorrido nesse cenário:

– o governo Dilma Rousseff seguiria se enfraquecendo paulatinamente, enfrentando muitas dificuldades para aprovar seus projetos no Congresso e superar a crise econômica;
– Lula continuaria sendo perseguido pelos agentes da Lava Jato e, com popularidade em baixa e a militância desmobilizada (o golpe serviu também para reativar a militância petista e de esquerda), dificilmente conseguiria recuperar sua popularidade e viabilizar sua candidatura a presidente;
– a direita, controlando o Parlamento e barrando qualquer tentativa do governo para debelar a crise econômica, teria a tribuna da Rede Globo e de toda a mídia para denunciar à sociedade, de forma permanente, o fracasso do PT e do projeto nacionalista com inclusão social;
– jamais aconteceria o desgaste da direita por conta do apoio ao projeto neoliberal de Temer que destruiu os direitos trabalhistas e aprofundou a crise econômica;
– a eleição presidencial de 2018 chegaria com grande favoritismo para a oposição ao governo Dilma Rousseff, ao PT e à esquerda;
– na pior das hipóteses, a direita chegaria a 2018 com totais condições para eleger Marina Silva e implantar o seu programa entreguista com um verniz social. Ou poderia construir um candidato outsider sem qualquer vínculo com o PT ou outros partidos tradicionais.

O candidato derrotado nas urnas em 2014 se alia ao vice da chapa vencedora. Sem o ímpeto golpista da direita, esta cena impensável jamais teria acontecido. (Pedro Ladeira/Folhapress)

Obviamente, isso tudo é apenas uma análise hipotética simplista. Mas o fato é que, ao ir com tanta voracidade para (1) derrubar o governo Dilma, (2) prender Lula e excluí-lo da eleição de forma tão explicitamente injusta, e (3) implantar o seu programa máximo em apenas dois anos de Michel Temer no Palácio do Planalto, a própria direita causou o fortalecimento e a recuperação eleitoral do ex-presidente, do PT, da esquerda e, em paralelo a isso, provocou o deslocamento de parte do seu eleitorado tradicional – sentindo-se traído pelo apoio ao governo Temer – para a extrema-direita.

Rogério Tomaz*
De Brasília

:: No próximo Informe (quarta-feira, 12/9):
– Haddad confirmado como candidato do PT?
– PSDB fora do 2º turno?
– Eleições para os governos estaduais

*Jornalista responsável pelo site www.rogeriotomaz.com

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