Argentina: Sentença de prisão perpétua para jogadores de rugby que mataram a pontapés um jovem de 18 anos

Foi anunciada nesta segunda-feira (6), por um tribunal na Argentina, a condenação de um grupo de jovens jogadores de rugby que mataram a socos e pontapés o estudante Fernando Báez Sosa, de 18 anos, em janeiro de 2020. Cinco dos agressores pegaram prisão perpétua, enquanto outros três foram sentenciados a 15 anos de prisão.

Jogadores de rugby condenados a prisão perpétua por assassinato

O crime ocorreu na cidade balneário de Villa Gesell, a 300 quilômetros da capital Buenos Aires. O julgamento teve início na primeira semana de janeiro e teve cobertura massiva dos meios de comunicação.

As imagens do crime chocaram o país, bem como os detalhes que foram descobertos depois. Fernando, que estudava Direito na Universidade de Buenos Aires (UBA) e estava de férias em Villa Gesell, se desentendeu com os jogadores de rugby dentro de um clube noturno. Os seguranças do local expulsaram todos.

Minutos depois, Fernando caminhava com amigos pela calçada quando golpeado pelas costas por dois dos agressores. Em seguida os demais se somaram ao espancamento e impediram amigos da vítima de socorrê-lo. Fernando teve a cabeça chutada várias vezes mesmo após cair inconsciente.

O caso teve ainda conotações racistas e xenófobas. Fernando era filho de imigrantes paraguaios: Silvino Báez, porteiro do edifício onde vivem em Buenos Aires, e Graciela Sosa, cuidadora de idosos. Durante o julgamento, uma das testemunhas contou que os agressores gritavam “negro de merda” enquanto espancavam o jovem.

“É só o começo. Estamos um pouco mais tranquilos, mas queremos perpétua para todos”, disse o pai de Fernando na saída do tribunal.

A prisão perpétua foram os seguintes condenados: Ciro Pertossi, Enzo Comelli, Matías Benicelli e Luciano Pertossi. Como protagonistas secundários do crime, Ayrton Viollaz, Blas Cinalli e Lucas Pertossi receberam a sentença de 15 anos de prisão.

Vídeo com resumo do caso:

Triste ironia

Ao longo do caso, amigos contaram que Fernando Báez Sosa se inspirava no advogado Fernando Burlando, muito conhecido na mídia argentina por sua participação em casos de muita visibilidade. Nas redes sociais, Burlando tem grande presença, com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e mais de 180 mil no Twitter. A família procurou o advogado e ele aceitou o caso prontamente.

Após a sentença, Burlando declarou que vai pedir a perpétua também para os três jovens condenados a 15 anos. O caso vai agora para o tribunal de apelações, a segunda instância da Justiça argentina, e posteriormente pode ir parar na Suprema Corte do país, que será a última instância do processo.

Desmaio

Um dos condenador a prisão perpétua, Máximo Thomsen, 23 anos, chegou a desmaiar durante o anúncio da sentença. Ao longo de todo o julgamento, entretanto, os acusados permaneceram impassíveis e alguns chegaram até a rir nas sessões, na frente da família da vítima.

Sobre o episódio, Burlando se manifestou. “Nesse estado, caíram de golpes e pontapés sobre Fernando”, observou o advogado da vítima.

Em todo o período transcorrido desde o crime, jamais foi feito um pedido de desculpas, nem dos agressores, nem dos familiares destes. Na imprensa argentina, alguns comentaram que essa estratégia da defesa se amparava numa sensação de impunidade garantida, que acabou não se confirmando.

Rogério Tomaz Jr.

Fonte: Página 12

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